Para olhares mais desatentos, a Terapia de Bowen parece ser apenas um conjunto de movimentos na pele (ou sobre roupa leve) em pontos muito específicos do corpo, provocando um estado de relaxamento profundo. Mas são estes pequenos movimentos que conseguem dar ao corpo as instruções necessárias para este atingir o equilíbrio.
Estudos recentes demonstraram que os níveis profundos de relaxamento podem ter efeitos benéficos nos nossos sistemas imunitários e hormonais. Contudo, a Terapia de Bowen é também eficaz em casos de problemas músculo-esqueléticos como as dores lombares que acontecem quando se faz um esforço exagerado ao pegar em pesos, ou lesões desportivas tais como torcer um pé, lesionar um músculo ou uma articulação.
Esta técnica baseia-se em alguns princípios nucleares que foram observados pelo seu criador. Tom Bowen reparou que o corpo mantém a sua estrutura devido à inter-relação de certos conjuntos-chave de músculos, através daquilo que se chama ‘fascia ‘. Já deve ter reparado nas camadas brancas translúcidas quando corta a carne ao preparar o jantar. Estas camadas são a fáscia, pequenos ‘lençóis’ (e às vezes tubos) que cobrem qualquer estrutura no corpo e variam de espessura e densidade.
Cobrindo todos os músculos, a fáscia permite a flexibilidade e os movimentos entre as várias partes do corpo. Uma das razões pelas quais a fáscia recebe tanta atenção por parte da Terapia de Bowen é porque ela desempenha um papel importante na nossa postura e, particularmente, na maneira em que posicionamos a nossa coluna vertebral.
Olhando para a nossa coluna vertebral como um pilar de uma tenda e olhando para esta rede fascial como as cordas que mantêm a coluna de pé, conseguimos perceber a quantidade de pressão a que as fáscia estão sujeitas. Da mesma forma, conseguimos imaginar o efeito de uma pressão errada ou fraqueza de uma, ou mais, destas cordas no pilar da tenda. No nosso corpo, isto pode ter várias reações: desde pressão nos nervos à saída da coluna vertebral, até à tensão nos músculos num dos lados do corpo, passando pelos padrões de compensação que o corpo cria. O resultado é por demais evidente: dor.
Ao contrário de algumas terapias complementares, que manipulam a coluna com o objectivo de restaurar o equilíbrio entre os vários ossos (para, por exemplo, libertar um nervo ‘preso’), a Terapia de Bowen direciona os músculos e as fáscias que mantêm a coluna nessa particular posição. Ao alterar a relação entre músculo e fáscia, torna-se inevitável uma alteração da estrutura, o que, como resultado, vai obrigar a coluna a adoptar uma melhor posição. Este método tem resultados mais duradouros.
O cérebro e os nervos
Quando esticamos ligeiramente os músculos, os receptores que se encontram ao longo das fibras musculares, dentro dos músculos, começam a enviar informação através das fibras nervosas para a medula espinal. Temos aproximadamente 7 a 30 destes receptores por grama de tecido muscular, que enviam milhares de informações por segundo ao cérebro, dando conta do estado de cada músculo.
Ora durante o tratamento, mantém-se o esticar durante vários segundos antes de iniciar o movimento em si. Dessa forma, tanto durante como depois do movimento, é enviada mais informação através das fibras nervosas até as várias partes do cérebro. No caso dos tendões, por serem mais sensíveis mas ao mesmo tempo mais resistentes, é necessário usar uma pressão mais lenta e mais forte.
O cérebro interpreta a informação recebida e passa-a de frente para trás, formando um mecanismo de autocorreção complexo. Quando estamos acordados e em movimento, há quantidades enormes de informação a ser tratada entre o cérebro, os músculos, os tendões, os ligamentos, a pele e as fáscias . Quando estamos a dormir, passa pouca informação neste sistema de auto-correcção. Para um tratamento eficaz, é importante que haja pouca interferência da parte consciente do cérebro ou mesmo dos músculos pois só assim é que o nosso organismo se pode reorientar à vontade.
Os movimentos do tratamento de Bowen são feitos em pontos-chave do nosso corpo que o nosso cérebro utiliza como pontos de referência naturais para determinar a postura do corpo. Estes têm, por isso, uma influência significativa na maneira como o corpo se coloca.
Explicações alternativas
Há, sem dúvida, semelhanças entre os pontos-chave aos quais a Terapia de Bowen dá atenção e os ‘trigger points’ e meridianos da acupuntura. Contudo, a Terapia de Bowen não passa por aliviar a dor e outras perturbações através da introdução e mobilizações de agulhas em pontos específicos do corpo humano. Na Terapia de Bowen alguns movimentos localizam-se em pontos coincidentes com linhas e meridianos de acupuntura mas o movimento de Bowen é feito com os dedos do terapeuta onde este apenas cruza a estrutura.
Em estudos recentes, muitos terapeutas têm mencionado uma resposta através das mãos, como que um impulso elétrico enquanto trabalham. O próprio Tom Bowen afirmava conseguir ‘ler’ a informação sobre a condição do corpo do paciente através da maneira como o corpo deste respondia. Estes impulsos são, de facto, passíveis de ‘gravação’ com métodos científicos e ficou demonstrado que o ‘esticar’ da fáscia gera uma corrente elétrica pequena. Também foi demonstrado que essas correntes têm efeitos de cura bastante significativos no corpo.
Foi efectuada, nos últimos anos, uma pesquisa enorme nos complexos sistemas de comunicação originados pela relação entre os tecidos e fluidos corporais. Já foi documentada uma alteração, ao nível celular, na composição do sangue após um tratamento de Bowen.